domingo, 22 de novembro de 2015

CIÊNCIA, DEMOCRACIA E O VELHO E SURRADO CRISTIANISMO.

Certo que tudo começou com Tales de Mileto, há um jubileu de séculos atrás. Mas, certo também que após ele o mundo arrastou-se por dois mil anos sem apresentar diferença significativa no conhecimento e no domínio da natureza. Quando chegamos aos anos 1500 dos cristãos, aos novecentos dos muçulmanos e 4500 dos judeus não havia muita diferença entre as várias civilizações, incluindo a milenar China. No entanto, após a revolução que alguns menosprezam, em duzentos anos os cristãos dominaram o mundo e impuseram sua ciência, sua gravata e sua coca-cola em todos os cantos. Aliás, se um ET nos visitasse ali pelo ano mil dos cristãos, e seus congêneres refizessem a viagem nos dias de hoje servindo-se dos seus relatórios, por certo tentariam encontrar nossos centros mais avançados em Córdova e Bagdá. Veja-se o exemplo do Japão. Tal como todo o mundo, recebeu os cristãos pela primeira vez ali pelo século XVI. Vendo os estragos nos vizinhos, isolou-se. Ali pelo século XIX, não suportando o isolamento e, ante a pressão americana, se abriu. Quando o imperador comparou, pelos relatórios de trezentos anos antes, a tecnologia dos cristãos com a que agora lhe apresentavam, apavorou-se e mandou seus súditos aprenderem com eles. É fato histórico que os cristãos, até o final do século XV, em igualdade de condições, senão até mais atrasados que outros povos, em um curto período de tempo deixou-os todos na poeira. Só é possível negar isto a quem não se desloca na linha do tempo para a compreensão da história, e observa apenas o mundo de hoje, onde Japão, China, Árabes, Europeus, etc., se igualam. Mas, se igualam porque assimilaram a ciência ocidental. E a ciência ocidental surgiu porque Descartes erigiu a dúvida como postura permanente, Bacon estabeleceu a experiência como ferramenta, Copérnico e Galileu provaram que a natureza se manifesta na matemática, Hobbes demonstrou que a moral é humana e não divina, e, finalmente, Lutero eliminou os intermediários obrigando o homem a encarar Deus nu e solitário, tendo como culto o mais extremo subjetivismo: a Palavra.
Portanto, não sei se, o quê, o quanto ou o nada que a ciência deva ao cristianismo. Mas, o relato histórico acima é um fato.
Talvez por isso Herculano Pires disse que Jesus de Nazaré iniciou a "era da razão". O fato é que esse menino colocou seu deus único e ideado (segundo Freud, o surgimento desse deus -- lá atrás, com Moisés ou Akhenaton -- significou o surgimento do indivíduo) na mochila, passou pela Grécia e apanhou a filosofia numa das mãos, talvez na outra a noção de direito e ordem romanas, e partiu para a conquista do resto da Europa, onde mais tarde se operou a emersão da subjetividade que espalhou a ciência e a democracia pelo planeta.
Se hoje as coisas estão diferentes, se isto foi bom ou ruim, certo ou errado, quadrado ou redondo, e o futuro é incerto, nada muda o passado.