quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A MULTA DA URBS PARA O IDOSO




Quando eu adentrei a idosidade fui, todo faceiro, apossar-me dos direitos correspondentes que o estado onde vivo nos confere, dentre eles, a cobiçada vaga exclusiva para estacionamento.
Fiquei decepcionado quando soube que, para isto, eu precisava fazer um cadastro. Não basta olhar para minha cara e ver que sou idoso? Bom, vá lá que um sujeito bonito como eu possa parecer mais jovem... Mas, nesse caso, já não valeria a carteira de identidade? Não teve arrego; acabei fazendo o tal cadastro e recebendo um “diploma de idoso” que passei a colocar no painel quando estacionava o veículo. Só que, o tal papel tem validade de apenas dois anos. Será que era esta a expectativa de vida que me davam?
O fato é que o tempo passou e não me animei a ir até o centro da cidade, num local de difícil acesso e estacionamento, a fim de renovar meu papel. Contei com a sorte, coisa que nunca tive em abundância. Hoje, a “periquita” me pegou. Puseram nas dedicadas jovens que disciplinam o trânsito esse apelido, “periquita”, porque se vestiam de verde. Porém, a que me atendeu – ou me ferrou – estava de amarelo; talvez tenham mudado o uniforme. De qualquer forma, era uma “canarinha”. Como sempre, elas colocam a multa no parabrisa e... somem! Não desisti, empreendi uma busca frenética, mesmo com chuva, e a encontrei acoitada numa lojinha, uma quadra adiante.
- Moça, que é isso aqui?
- Estacionamento irregular. A vaga é prá idoso.
- Mas, olha prá mim: eu não sou idoso?
- Seu papel venceu.
- Meu papel neste palco doido do mundo?
- Não, seu papel de idoso. E esse papel é para que a vaga não seja usada por quem não é idoso.
- Mas, agora você está me vendo: eu sou idoso. O que vale mais: o papel ou a realidade?
Bem, valeu o papel. Deu-me, de consolo, um outro papel com os horários onde me atenderão na renovação do primeiro. Mas a multa, ela não cancelou. Fiquei triste em saber que depois de tantas promessas e ilusões de modernidade na legislação ainda sou um papel.
Não vou renovar meu diploma de idoso. Que fiquem com esse direito concedido sob tanta burocracia e dificuldade, como se fosse para não ser usufruído. Não quero papo com um estado que me ignora ao vivo e em cores e prefere o diálogo apenas com um papel onde escreveram meu nome.

Um comentário:

João A. V. Donha disse...

Bem, ninguém é perfeito, mudamos constantemente de opinião, o fato é que... acabei renovando meu papel de idoso...