domingo, 16 de outubro de 2011

A GAFE DO OLAVO DE CARVALHO

Uma vez eu fiquei indignado na minha infância. Vi dois bêbados brigando a pauladas porque um queria votar no Jânio Quadros e o outro no Ney Braga. Meus dez anos se indignaram com a burrice dos adultos, mesmo os adultos bêbados, pois o caso era tão simples de resolver, afinal, um era candidato a presidente e o outro a governador!
Pois bem, agora tenho visto um indignado tornando-se onipresente nos sites conservadores: um tal de Olavo de Carvalho. Vídeos e mais vídeos no youtube, com milhares e milhares de acessos, e comentários indignados: "esse pt é assim mesmo", "morte aos petistas!", "abaixo a Dilma!"...
Bem, vamos ver o que o cara diz, ainda mais que ele é apresentado como "filósofo".
Abri um vídeo ao acaso. Ele esbravejava contra o PT por causa de uma proposta de emenda constitucional aprovada pela CCJ, que tira a força do vice-presidente. Propõe que, em caso de vacância no cargo de presidente, o vice assuma apenas interinamente, e o parlamento convoque nova eleição, indireta (!), para o preenchimento do tempo restante. Segundo ele, isso é artimanha do PT -- e ele compara com a tomada do poder pelo Hitler --, para se perpetuar no poder e sacanear o Temer. Muito bem, seu Olavo! Onde já se viu isso, ainda mais ressuscitando o fantasma das indiretas? Estão certos os demais indignados vociferando palavrões contra o PT no rodapé do vídeo.
Só que... eu fui pesquisar quem seria o autor de tão atrevida proposta.
Pasmem! Trata-se de um substitutivo do Demóstenes Torres, do DEM-GO, a um projeto do Arthur Virgílio, do PSDB-AM!
Bom Deus, meio século depois os bêbados continuam brigando!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

NÃO ERA BEM COM ESSA DESCATOLICIZAÇÃO QUE EU SONHAVA

Hoje é dia de Nossa Senhora da Aparecida e eu notei, não sem uma certa nostalgia, como está mais fraco o foguetório do meio dia. Quando eu era adolescente a procissão passava na rua principal ocupando toda a via e nela desfilavam todas as pessoas da cidade. Eu assistia da calçada, junto com os ateus, comunistas e espíritas. Éramos cerca de meia dúzia e nos considerávamos livres pensadores. Ao som da ladainha fazíamos entre nós -- claro, apenas entre nós e baixo para que não chegasse aos ouvidos da maioria cobraleante --, comentários, temperados pela arrogante e pretensiosa sabedoria juvenil, sobre a necessidade de acordar o povo para as benesses da laicização. Hoje, são raras e magras as procissões e os fogos, mas não aumentou o número de livres pensadores como eu sonhava; talvez tenha até diminuído. O Brasil não se tornou um grande país laico. As pessoas que largaram as velas e desapoiaram o andor tornaram-se fundamentalistas de diversos matizes. Se antes rezavam e depois voltavam descontraídas aos seus pecados saudáveis -- e abençoados por Deus --, agora tentam impor as orações, as crenças e as virtudes, ameaçando reeditar as intolerâncias medievais.
Conto os minutos cada vez mais escassos dos rojões e conjecturo com meus botões -- que ainda guardam certa dose de arrogância e pseudo sabedoria -- como já podemos sentir saudades da hegemonia católica.