segunda-feira, 20 de junho de 2011

O DIPLOMA DE JORNALISMO

Estive lendo um trabalho sobre as exigências para exercício da profissão de jornalista em vários países, elaborado por um professor e colocado no seu blog. (Não é difícil encontrar trabalhos dessa natureza pelo google). O tal professor é francamente a favor da exigência de diploma, e essa sua necessidade psíquica orientou o trabalho. Mas, o tiro sai pela culatra: o que o trabalho evidencia é que a exigência do diploma é mais comum nos países mais atrasados. E, isso não é difícil de se compreender. Os paises mais atrasados ainda estão com muitas de suas partes sociais componentes mergulhadas na Idade Média. Daí o dizer-se que são "emergentes". E, na Idade Média, todos sabem, prevalecia um fascismo corporativista que "protegia" as pessoas da concorrência. Havia, assim, uma obsessiva reserva de mercado para os trabalhadores, para garantir seu ganha-pão, e sua inclusão numa sociedade classista e estanque. Os países pioneiros na "emersão", ou seja, na adesão à revolução capitalista, no abandono do catolicismo medieval e da inquisição, foram obrigados a caminhar para uma sociedade onde a livre competição motiva o permanente aperfeiçoamento das pessoas. Daí porque esse regime tem vencido os nostálgicos retornos aos fascismos, tanto de esquerda como de direita. E os países onde permanece a saudosista reserva de mercado nas profissões têm caminhado na esteira do progresso dos desenvolvidos, beneficiando-se como vampiros de suas benesses, sem sacrifício equivalente para o surgimento delas. No que se refere à profissão de jornalista, a exigência de diploma é mais claramente evocadora de um controle medieval da sociedade, vez que contraria (ou contrariava até pouco tempo) a liberdade de expressão. Tanto é que tal exigência vem sempre trazida pela legislação das ditaduras. Sobrevivem , depois, como entulho autoritário defendido pelos incompetentes que temem justificadamente qualquer concorrência. O autor do trabalho enfatiza, tentando defender o diploma, que nos Estados Unidos, por exempo, onde não é exigido o diploma para o exercício profissional, 75% dos que atuam na área são diplomados; ou seja, evidencia-se a preferência dos patrões pela contratação dos diplomados. Isto se deve, e se constata numa rápida observação, à qualidade das faculdades de jornalismo. E essa qualidade existe porque há concorrência. As faculdades têm que concorrer com a vida na formação dos jornalistas. Daí, esmeram-se em oferecer ao mercado um profissional melhor que o formado em carreiras empíricas dentro dos órgãos de comunicação. No caso dos países que têm essa legislação ainda submersa no medievalismo ou no autoritarismo, as faculdades funcionam como cartórios: detêm o direito de conferir o grau de jornalista aos seus alunos como uma escritura prévia que lhes permite o acesso ao trabalho, sem o perigo de concorrerem com pessoas igualmente ou melhor capacitadas, saídas não só das várias áreas das ciência humanas, como de qualquer outra; ou ainda, mesmo com apenas o ensino médio. E nós, cidadãos desses países, que já não cremos em lobisomem e papai noel, vamos continuar acreditando que essas faculdades, assentadas comodamente no direito exclusivo de distribuir diplomas (ou permissões de trabalho), vão, por motivação própria, preocupar-se em aperfeiçoamentos que aumentem seus custos?
Voltando àqueles parênteses que coloquei acima sobre a liberdade de expressão, eu diria que o jornalista diplomado, como único porta-voz licenciado e autorizado dessa liberdade em nossa sociedade, tem o seu fim desenhado no horizonte pela internet (seus blogs e seus sites de relacionamentos), e a revolução que ela representa nas formas de expressão do pensamento. A não ser, claro, que os adeptos da obrigatoriedade do diploma iniciem uma campanha para exigí-lo a quem publica seus blogs ou sites.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O AFFAIRE BATTISTI

A Itália reclama do quê?
Manteve o cára preso por APENAS dois anos.
A França até publicou os sofríveis romances dele.
Enquanto que o Brasil, ora o Brasil:
- condenou o cára a prestação de serviços comunitários e a multa de dez mínimos pelo passaporte falso;
- manteve-o na prisão, em regime fechado, por QUATRO anos, apenas na suposição de que seria extraditado.
Aqui tem justiça, viu Berlusconi?

sábado, 11 de junho de 2011

CQC - CARETICE A QUALQUER CUSTO

Não gostaram da piadinha? Pois é esse o nível desse programa.
Será que a veia humorística nacional se esgotou tão completamente, a ponto de surgirem esses necessitados de holofotes a qualquer preço? Trocadilhos infames que, reconheço, assomam à mente de quase todo mundo, mas que as pessoas calam em nome do bom gosto, são vomitados pelo grupo como se fossem as maiores genialidades.
"Helô! Eu sou humorista!", diz um deles. Que falta de autocrítica!
O pior é que, segundo dizem, pagamos royalties à Argentina por uma coisa dessas.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

HERÓIS DO FOGO E DA DEMOCRACIA

Quem não nutre admiração pelos bombeiros?
Só o Cabral, o cabra do mal.
Bravos homens que ousam exigir dignidade.
Um saláro de dois mil, quando
os que fogem do fogo ganham vinte, trinta.
Presos, fazem das grades a honra,
e dos palácios os antros da covardia.
Bombeiros presos e bandidos soltos,
é a equação da vergonha.
Rio de Janeiro agonizante,
aproveita e ressuscita
da tua exacerbada violência.
Sacode o jugo dos fascínoras,
estejam eles travestidos
de traficantes ou de autoridades!

SUPREMA CORTE DO BRASIL: ONDE IMPERA A TRANSPARÊNCIA, A DEMOCRACIA E O BOM SENSO.

Transparência, sim, pois, perguntaríamos, quantos membros de supremas cortes pelo mundo ousariam expor-se dessa forma na televisão, discutindo, dando suas justificativas e pareceres, seus votos, suas decisões, em transmissão direta para quem quisesse ver?
Democracia, porque tal transparência permite a todos, cidadãos deste e doutros países, verificarem por si mesmos a liberdade, sinceridade e o respeito com que as justificativas são expressas e os votos dados.
E, finalmente, bom senso, porque nossos ministros da suprema corte, no julgamento de um caso específico como o do Battisti (e independentemente do mérito da ação), souberam definir exatamente a competência dos poderes num estado democrático, ajudando a manter e fortalecer, com a força de suas decisões e a lucidez de suas inteligências, o equilíbrio em nossas instituições.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

SAUDADES

Hoje o dia está radiante: sol dominando um céu totalmente azul - a não ser por algumas poucas nuvens próximas do horizonte, que apenas aumentam a beleza.
Só o frio curitibano impede a lembrança da infância.
Às vezes eu mato a saudade, ultrapassando o trópico de Capricórnio e voltando.
Volto ao calor, mas não volto ao sonho...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

DOMÍNIO DO INGLÊS

Tanto se fala em "analfabetismo funcional" nas críticas à educação. Tudo bem, não está errado. Mas, hoje em dia, o verdadeiro "analfabeto funcional", de qualquer nacionalidade, é aquele que não domina a língua inglesa. Isto veio, claro, no pacote da hegemonia anglo-saxã. Durante muito tempo a Inglaterra dominou os mares, o que fez sua língua ir se impondo como o código comercial por excelência; apesar de, por vários séculos, o francês permanecer como a língua da diplomacia e da nobresa. Com o declínio das antigas potências européias no início do século XX e a bipolarização do poder entre USA e URSS, seguida da estonteante vitória do primeiro ao final do século, o inglês sobrepôs-se à multipolarização do século XXI, principalmente na infovia (a via que tende a substituir todas as vias).
A guinada do inglês para o francês como língua universal talvez se tenha efetivado na Conferência de Paz que seguiu-se à Primeira Grande Guerra, a guerra que iria acabar com todas as guerras (e a Conferência que pretendia criar a paz permanente, mas que apenas adiou a hecatombe por mais vinte anos). Pelo menos é o que se depreende da leitura de um trecho do livro "Paz em Paris - 1919", da historiadora Margaret MacMillan, bisneta de Lloyd George:

"Depois de muita briga, ficou decidido que o francês e o inglês seriam as línguas oficiais para os documentos. Os franceses queriam só a sua língua, argumentando abertamente que era mais precisa e, ao mesmo tempo, tinha mais nuances que o inglês, mas na realidade não desejavam admitir que a França perdia posição entre as grandes potências. O francês, diziam eles, vinha sendo, por séculos, o idioma das comunicações internacionais e da diplomacia. Os ingleses e americanos ressaltavam que sua língua aos poucos suplantava o francês. Lloyd George revelou que sempre se arrependeu de não saber francês um pouco mais (quase não sabia nada), mas que, para ele, era absurdo que o inglês falado por mais de 170 milhões de pessoas não tivesse status idêntico ao francês. Os italianos declararam então que, nesse caso, por que não também o italiano? "Senão", disse o ministro do exterior Sonnino, "a Itália parecerá tratada como inferior, quando se exclui seu idioma". Sendo assim, disse Lloyd George, por que não também o japonês? Os delegados japoneses, que davam sinal de mal acompanhar o debate em francês ou inglês, permaneceram calados. Clemenceau cedeu, para consternação de muitos de seus próprios auxiliares".
E cedeu para sempre. Dia desses anunciaram o fechamento da biblioteca francesa em São Paulo.
Nem é preciso explicar a ausência do alemão e do russo no diálogo, uma vez que, nessa data aí, essas duas potências estavam dilaceradas, uma pela derrota, outra pela revolução.