quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O BRASIL MEDIEVAL

A queda de braços entre o Conselho Nacional de Justiça - CNJ - e a guilda dos juizes está a demonstrar que o judiciário brasileiro é uma caixa preta que, tal como aquelas utilizadas na aviação, só será efetivamente aberta quando o avião cair. E não pensem os mestres e maiorais das guildas que o avião nunca cairá.
Pois se não for quando da queda do avião, não o será nunca. Mesmo quando o clamor e a indignação dos povos contra os desmandos dos nossos magistrados atingiram a ONU, e esta enviou duas missões em 2004 (tais como aquelas do exterminador do futuro, porque qualquer missão da ONU contra nosso poder judiciário vem do futuro, uma vez que ele estancou no passado), para everiguar as aberrações, nossos juizes e suas associações protetoras reagiram tanto, acusando as missões de afrontarem a soberania nacional (fortunas duvidosas e sentenças em causa própria agora têm outro nome), que nem mesmo os relatórios conclusivos receberam divulgação.
Para alguma coisa serviram essas missões da ONU e as atenções internacionais.
Os intocáveis, antes que viessem os capacetes azuis, fingiram consentir à sociedade um controle do judiciário. Em sua soberana e inquestionável vontade, permitiram, concederam, que os poderes eleitos pelo povo criassem a tal CNJ. Mas, de mentirinha, nada de se meter nas contas dos juizes.
Entretanto, como todo órgão passa por trocas de comando, e nas trocas de comando sempre se esquece de passar alguma coisa, os atuais comandantes, na certa, não foram devidamente avisados do acordo tácito ou de bastidores, e começaram a cumprir seu dever ético de investigar o judiciário e seus membros.
Na primeira colméia que mexeram, o TJ paulista, a crise começou. Principalmente porque algumas abelhinhas já voaram mais alto e lá por cima estão estabelecidas.
Quosque tandem abutere, Iudiciaria, patientia nostra?

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

MELHORIAS NO DESIGN INTELIGENTE

Mark Twain teve a idéia; F. Scott Fitzgerald escreveu o conto; e David Finch mais Eric Roth fizeram o instigante e belo filme "O Curioso Caso de Benjamin Button". Mas, muito antes do filme, nosso insuperável Chico Anísio contou em cinco minutos, na TV, a história do sujeito que nasce velho e morre bebê. E agregando valor: apresentou-a como uma correção à obra de Deus. Agora eu, humildemente, envio ao nosso caro Pai Amado e Bom uma nova proposta de aperfeiçoamento do seu design do universo. Junto a obra Dele Próprio e a imaginação dos artistas. Na minha proposta as pessoas nascem como sempre nasceram -- recém-nascidas --, passam pelas travessuras da infância, pelas crises da adolescência, pelas loucuras da juventude, pelas realizações e decepções da maturidade e chegam à colheita da velhice. Porém, no momento da morte, quando está à beira da exaustão o mecanismo de divisão e multiplicação celular, eis que o metabolismo se inverte, e o sujeito começa a rejuvenescer a exemplo do Benjamin Button. E a justificativa científica para isso poderia ser tão facilmente encontrável quanto o foi para o próprio Finch "modernizar" a obra descaracterizando o picaresco do Fitzgerald. Minha proposta tornaria o universo muito mais bonito e interessante, pois nos daria a todos uma segunda chance, quando, refazendo o caminho de volta, poderíamos ir corrigindo os erros, mudando as escolhas, aproveitando as oportunidades perdidas, e... isso mesmo que você está pensando sobre transar com quem não transou na ida. Claro que haveria sempre os pequenos problemas não negligenciados pelos escritores citados, principalmente o fato de que a memória começaria a se comportar de maneira diferente quando o sujeito retornasse ali abaixo dos vinte. Mas, seria sempre uma perda de memória que o remeteria à inocência, nunca à rabugisse.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A SUCESSÃO DE CORPORAÇÕES DE PODER

Nenhuma corporação -- ou, se o quiserem "instituição" -- que detenha poder sobre a população pode ficar sem controle externo, sob risco de transformar-se numa casta de privilegiados. Príncipes e sacerdotes já foram considerados imprescindíveis para a permanência dos valores da sociedade, e receberam um poder sem controle. Exorbitaram tanto que Voltaire chegou a afirmar que o homem só seria livre quando o último rei fosse estrangulado com as tripas do último padre. Superado isso aí, claro: quem seria tão desatualizado a ponto de imaginar o pacato príncipe Charles sendo estrangulado nas tripas do simpático padre Marcelo? Por mais que a realidade de hoje seja escamoteada pelo conluio entre as "instituições republicanas" e a grande imprensa, o amanhã sempre surge e, de repente, traz um acordar da população. Quando raiar esse dia, quem será que a população vai colocar no lugar das personagens do Voltaire?

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

MAGISTRADOS FAZEM PARALISAÇÃO EM TODO O PAÍS

Deu na "Folha": os juízes federais estão em greve em todo país por melhores salários. Estavam ameaçando há algum tempo, conforme notícia que retirei da "Isto É" em postagem anterior sob o título: "EU NÃO ENTENDO MAIS O QUE LEIO".
Querem que aumentem seus míseros R$26.000,00 mensais em média, para algo um pouco mais justo, R$30.000,00.
Eu só lamento que não tenham paralisado há mais tempo; assim não teríamos (ainda) passado pela vergonha de ler a sentença contra o Ziraldo.

sábado, 26 de novembro de 2011

A CONDENAÇÃO DO ZIRALDO

Um juiz do nosso oeste deixou-me envergonhado e triste.
Envergonhado de ser brasileiro.
Triste por ser brasileiro.
Nesta hora, neste momento.
Porque em todas as outras horas e outros momentos,
ao sentir na pele o sol radioso,
o ar cálido sob o céu do meu pais,
eu sinto orgulho e felicidade de ser brasileiro.
Mas quando vejo como este povo submisso
que já foi vassalo do monarca,
que ja esteve refém dos fortes armados,
agora vive de joelhos ante uma justiça espúria,
sombra de uma constituinte ilegítima,
esta sim, um estelionato político,
justiça que confirma sua sanha midiática e autoritária
condenando por estelionato um homem como o Ziraldo
não dá prá conter a tristeza pelo meu povo.
A justiça brasileira senta no trono do ridículo
quando coloca no banco dos réus
um homem honrado.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O MINISTÉRIO PÚBLICO E A TORTURA

Em entrevista à Folha de São Paulo, publicada em 16.11.2011, o advogado Rogério Buratti, atualmente exilado na Itália, afirma que foi torturado por membros do ministério público e da polícia para denunciar o suposto pagamento de cinquenta mil reais ao ministro Palocci, quando este era prefeito de Ribeirão Preto, no bojo da licitação sobre o lixo da cidade. O promotor do caso, Aroldo Costa Filho, negou a acusação, dizendo que o ministério público não usa de tais métodos. O fato é que, logo após a tal denúncia, o advogado, que vinha sendo mantido preso a pedido do promotor, foi solto imediatamente, e o ministro, que vinha sendo engordado como reserva tática na sucessão do Lula caso não houvesse reeleição, caiu em desgraça. Dois anos depois, já em 2007, o advogado registrou em cartório uma declaração desmentindo a "denúncia" que fizera ao promotor e, mais recentemente, escafedeu-se para a Itália -- onde permanece protegido, talvez, por uma cidadania originária, o que faz supor seu sobrenome --, e de onde diz não pretender retornar ao Brasil para novos depoimentos ao promotor, apesar dos insistentes "convites" deste.
Eu tenho bons amigos que se tornaram promotores e confesso que não consigo siquer imaginá-los capazes de um ato de tortura. Assim como, no passado também tive bons amigos militares que negavam com veemência terem torturado alguém, e aos quais eu não conseguia imaginar na posição de torturadores. Ao que parece, a tortura é algo muito relativo, depende do ponto de vista de quem a aplica e de quem a sofre. Talvez o zeloso defensor do estado que coloca um suspeito no pau-de-arara racionaliza julgando-se "apenas um pouco duro com ele", enquanto que o cidadão que se vê ameaçado de enquadramento numa das milhares de leis e portarias municipais, estaduais ou federais que existem (e, como já o dizia Napoleão, tem tanta lei que ninguém escapa de ser enforcado), sente-se torturado. Talvez devêssemos meditar um pouco sobre os limites entre tortura e delação premiada, por exemplo.
Dentre as instituições coletivas como o ministério público, a inquisição católica, os órgãos de inteligência militar e policial das ditaduras, ou uma instituição individual como a monarquia, nós temos os bons e os maus, os honestos e os permissivos, os que abominam a coerção ilegal e os que são capazes de recorrer a métodos reprováveis. Principalmente se considerarmos que a pessoa na posição de investigador é tomada de certa paranóia, certo receio de "estar sendo enganada" pelo suspeito colocado à sua frente.
O que se vê, na prática, é que os bons dessas organizações se beneficiam dos atos dos maus, seja no aproveitamento das informações obtidas, seja no gozo do poder adquirido através do terror disseminado na sociedade pelas ameaças de processos inconvenientes ou torturas dolorosas. O cidadão indefeso que no momento se encontra à mercê do coator reverte, posteriormente, a situação, após uma absolvição judicial ou histórica. Mas, entre o antes e o depois, como dizia o comediante, tem o durante. E o "durante" gera danos irreparáveis à saúde, à economia e mesmo à imagem da vítima. Poderíamos citar vários casos flagrados pela imprensa de utilização, pelos integrantes do ministério público, do poder advindo do terror para a obtenção de vantagens pessoais aos seus membros (Sendo o caso mais gritante aquele, fartamente noticiado, de um procurador geral flagrado ligando para um presidente de assembléia legislativa, ameaçando de processos e devassas caso não votassem o aumento). Deveríamos também, talvez, fazer um estudo comparativo entre as ações impetradas pelo ministério público e seus resultados finais, que poderia nos demonstrar a falta de zelo ou má fé no uso do poder de processar à vontade sob o patrocínio do estado.
Mas, se podemos realmente aprender alguma coisa sobre tudo isso, seria nos perguntando o que têm em comum instituições como o ministério público, a inquisição católica e os doi-codis. Bem, de início podemos observar que tais instituições recebem da sociedade, num dado momento histórico, um poder autônomo, independente, sem controle, apesar de sustentado por essa mesma sociedade. Certamente, o ministério público poderia objetar que seu poder de processar à vontade, se não é controlado pela sociedade ou alguma instituição desta, é controlado pela lei. Mas essa alegação tem sido comum a todos os órgãos citados, além do que a lei será sempre passível de interpretações.
Um outro caráter comum e óbvio é o serem todas essas instituições, humanas, logo, integradas por seres humanos, e nós, humanos, albergamos em nossos corações o bem e o mal, e quase sempre falhamos em evitar que nossas tendências administrem os poderes que transitoriamente detemos.
Daí que, para evitarmos as tentações do autoritarismo, o que tem sido uma causa de sofrimento para tantos seres humanos no decorrer de nossa história, deveríamos nos abster de ficar distribuindo poderes a instituições independentes e sem controle da sociedade; instituições que completam seus quadros por critérios elaborados internamente. Ao contrário, deveríamos adotar como prática que todo poder e toda autoridade sobre os cidadãos só terão legitimidade se delegados pelos próprios cidadãos em sufrágios livres e diretos.

domingo, 13 de novembro de 2011

"Lei exige obras de arte em edifícios de Porto Alegre"

A notícia acima é da Folha deste domingo (13.11).
Não vivo dizendo que este país caminha para o mais deslavado fascismo?
Para garantir mercado a um punhado de incompetentes narcisistas (se não o fossem, venderiam suas obras a quem quisesse comprá-las) avança-se na liberdade do próximo.
Ora, prédios residenciais, tenham que tamanho tiverem, são, obviamente, RESIDÊNCIAS!
Só legisladores sem cérebro vão obrigar as pessoas a terem em suas casas obras de arte que não queiram. As obras que os cidadãos serão obrigados a expor em suas (até então sagradas) residências são "de artistas cadastrados na prefeitura" (sic!)! É a formação de uma corporação de ofício; logo teremos instalada a corrupção por uma vaga no cadastro; e, talvez, seja até este o objetivo do legislador. Pior ainda, estaremos condenando os artistas que não conseguirem efetuar seu cadastro, ou não são suficientemente aéticos para subornarem barnabés em troca da exposição de suas obras na sala de entrada das outras pessoas, ao ostracismo que, na arte, equivale ao aniquilamento. Existe possibilidade de um estado mais fascista (ou comunista, se o quiserem) do que este?
É certo que devemos aprender a valorizar a arte e os novos artistas. Mas, isso se faz através da educação, nunca com leis coercitivas e fascistas que ameacem a liberdade individual.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O 11º MANDAMENTO: PROTEGERÁS O AMBIENTE

Por que o meio ambiente está sendo degradado no Brasil?
Por que áreas de mananciais estão sendo invadidas e ocupadas por pessoas sem teto que lançam seus lixos e esgotos nas nascentes e rios?
Por que os habitantes dos remanescentes da mata atlântica vêem como única alternativa de sustento a coleta predatória do palmito ou o comércio cruel de pássaros?
Para suscitar tais perguntas basta se dê uma olhada na periferia das grandes cidades brasileiras, principalmente Curitiba. Basta se observe a movimentação suspeita dos caboclos adentrando sorrateiros as matas do nosso litoral nas épocas de desemprego.
E por que tudo isso?
Ora, é evidente que a causa imediata é a total incapacidade do estado, do poder público, em proteger reservas, parques e mananciais.
Todos gostaríamos que tal proteção houvesse, mas é vã ilusão crer-se que um estado que não consegue construir e conservar estradas, atender às necessidades da saúde pública, oferecer educação digna às crianças, defender o direito à vida, à integridade física e ao livre trânsito de seus cidadãos, vai agora conseguir proteger extensas áreas de florestas, rios e mangues, ao custo que isso acarreta.
Portanto, se quisermos ter nossas reservas florestais, nossos aquíferos, mangues e nascentes cuidados e protegidos por equipes que os estude, acompanhe e, principalmente, faça a necessária segurança, a melhor alternativa que temos é a iniciativa privada.
Entretanto, como a iniciativa privada só existe e sobrevive se tiver ganhos, lucros -- pois esta é a forma milenar, e não conhecemos outra, dela manter o próprio estado com seus impostos, e os empreendimentos sociais e ambientais com seus fundos perdidos --, a implementação dessa alternativa só é possível com parcerias onde as negociações permitam concessões à produção, a fim de que possa ser gerado o retorno em preservação.
Os integrantes das classes de renda mais elevadas da sociedade -- entre os quais se inserem não apenas os empresários, mas também os políticos, os juízes, os promotores e os jovens ambientalistas bem nutridos -- não abrem mão de suas cotas de consumo de combustível, de água e sabão para um bom banho e, muito menos, do direito de geração de lixo. No entanto, tentam impedir parcerias com a iniciativa privada no desenvolvimento sustentável que proporcionariam a geração desses bens de consumo também para os pobres. Esses pobres, uma vez desempregados e vendo os bens necessários à vida digna lhes faltarem, enquanto são desperdiçados pelos que têm bons empregos e boas mesadas, não pensam em outra alternativa de sobrevivência senão onerarem ilegalmente o meio ambiente.
Quando alguém tenta impedir que uma empresa, em troca de vinte ou trinta metros de mangue, garanta a preservação de milhares de alqueires -- garantia que, todos o sabemos, o estado não pode dar --, esse alguém está alimentando todo o círculo vicioso de degradação.
Círculo vicioso de degradação que pode muito bem ser transformado num círculo virtuoso de preservação apenas com a utilização do bom-senso.
Bom-senso que não tem faltado à população que protesta pelos seus direitos nas ruas, nas estradas ou nas colunas de leitores da imprensa; mas, tem faltado a autoridades encasteladas em bons e estáveis empregos, e a certa classe de ativistas privilegiados ávidos por bandeiras que lhes garantam exposição na mídia.

domingo, 16 de outubro de 2011

A GAFE DO OLAVO DE CARVALHO

Uma vez eu fiquei indignado na minha infância. Vi dois bêbados brigando a pauladas porque um queria votar no Jânio Quadros e o outro no Ney Braga. Meus dez anos se indignaram com a burrice dos adultos, mesmo os adultos bêbados, pois o caso era tão simples de resolver, afinal, um era candidato a presidente e o outro a governador!
Pois bem, agora tenho visto um indignado tornando-se onipresente nos sites conservadores: um tal de Olavo de Carvalho. Vídeos e mais vídeos no youtube, com milhares e milhares de acessos, e comentários indignados: "esse pt é assim mesmo", "morte aos petistas!", "abaixo a Dilma!"...
Bem, vamos ver o que o cara diz, ainda mais que ele é apresentado como "filósofo".
Abri um vídeo ao acaso. Ele esbravejava contra o PT por causa de uma proposta de emenda constitucional aprovada pela CCJ, que tira a força do vice-presidente. Propõe que, em caso de vacância no cargo de presidente, o vice assuma apenas interinamente, e o parlamento convoque nova eleição, indireta (!), para o preenchimento do tempo restante. Segundo ele, isso é artimanha do PT -- e ele compara com a tomada do poder pelo Hitler --, para se perpetuar no poder e sacanear o Temer. Muito bem, seu Olavo! Onde já se viu isso, ainda mais ressuscitando o fantasma das indiretas? Estão certos os demais indignados vociferando palavrões contra o PT no rodapé do vídeo.
Só que... eu fui pesquisar quem seria o autor de tão atrevida proposta.
Pasmem! Trata-se de um substitutivo do Demóstenes Torres, do DEM-GO, a um projeto do Arthur Virgílio, do PSDB-AM!
Bom Deus, meio século depois os bêbados continuam brigando!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

NÃO ERA BEM COM ESSA DESCATOLICIZAÇÃO QUE EU SONHAVA

Hoje é dia de Nossa Senhora da Aparecida e eu notei, não sem uma certa nostalgia, como está mais fraco o foguetório do meio dia. Quando eu era adolescente a procissão passava na rua principal ocupando toda a via e nela desfilavam todas as pessoas da cidade. Eu assistia da calçada, junto com os ateus, comunistas e espíritas. Éramos cerca de meia dúzia e nos considerávamos livres pensadores. Ao som da ladainha fazíamos entre nós -- claro, apenas entre nós e baixo para que não chegasse aos ouvidos da maioria cobraleante --, comentários, temperados pela arrogante e pretensiosa sabedoria juvenil, sobre a necessidade de acordar o povo para as benesses da laicização. Hoje, são raras e magras as procissões e os fogos, mas não aumentou o número de livres pensadores como eu sonhava; talvez tenha até diminuído. O Brasil não se tornou um grande país laico. As pessoas que largaram as velas e desapoiaram o andor tornaram-se fundamentalistas de diversos matizes. Se antes rezavam e depois voltavam descontraídas aos seus pecados saudáveis -- e abençoados por Deus --, agora tentam impor as orações, as crenças e as virtudes, ameaçando reeditar as intolerâncias medievais.
Conto os minutos cada vez mais escassos dos rojões e conjecturo com meus botões -- que ainda guardam certa dose de arrogância e pseudo sabedoria -- como já podemos sentir saudades da hegemonia católica.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

OS "PRECONCEITOS" DE TWAIN, LOBATO E MACHADO

Há pouco tempo uma entidade de consciência negra pretendia proibir nas escolas os livros de Monteiro Lobato e crucificar o funcionário que os selecionara, acusando-o, o Lobato, de racismo porque, nas "Caçadas do Pedrinho", compara a agilidade da Tia Nastácia com a de um macaco, quando ela sobe numa árvore fugindo da onça. Como ficariam, diziam tais militantes, as criancinhas de descendência africana quando aquele texto fosse lido nas salas de aula? E não adiantava dizer que o professor aproveitaria a oportunidade para trabalhar tais valores ou desvalores; não adiantando nem mesmo mostrar, como defesa do autor, outra parte do mesmo livro em que o Lobato chama de "macacada" todas as crianças e personagens brancos da história, tornando evidente que a comparação com o nosso nobre primata se deve mais à agilidade e hiperatividade deste do que à sua cor (que nem sempre é negra, diga-se de passagem). Como sempre, poderíamos lamentar a falta de criatividade nacional, pois, tais investidas, parece, apenas repetem as que houve nos Estados Unidos contra Mark Twain e o tratamento, tornado pelos evos politicamente incorreto, que ele dá, em alguns momentos, aos amigos do seu Huck Finn.
Se formos adotar tais critérios, para sermos coerentes e imparciais, teremos que proibir nas escolas um dos principais artífices da língua pátria, nosso afro-descendente Machado de Assis. Pois se lermos com os mesmos olhos inquisitoriais as agruras do seu Brás Cubas, a partir do capítulo XXX das "Memórias Póstumas", vamos encontrá-lo lidando com o medo de uma borboleta apenas pela sua cor. Quando, finalmente, ele se deixa vencer pelos preconceitos e a mata, justifica sua consciência culpada dizendo: -"Também por que diabo não era ela azul?". E conclui que talvez mesmo azul ou laranja ela não escaparia da morte, porque ele poderia tê-la espetado para o deleite dos olhos. Vejam vocês, se é azul serve para o deleite dos olhos; como é negra, mata-se e joga-se às formigas. Qual seria a reação dos nossos paladinos se tal texto fosse de um autor branco?
Mas o "odioso" preconceito de Machado não para aí: volta-se, logo adiante, contra os deficientes físicos. A bela Eugênia (vejam a escolha do nome!) que ele começara a paquerar descontrói-se aos seus olhos quando ele descobre que ela tem um pequeno defeito na perna. "O pior é que era coxa" -- escreve o mestre do idioma -- "Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a Natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma. O melhor que há, quando se não resolve um enigma, é sacudi-lo pela janela fora; foi o que eu fiz; lancei mão de uma toalha e enxotei essa outra borboleta preta, que me adejava no cérebro".(!) Mais adiante, enquanto ele bendiz seus pés perfeitos ao descalçar as botas, "lançava os olhos para a Tijuca, e via a aleijadinha (!) perder-se no horizonte do pretérito". E finaliza, cruelmente, o episódio. "Tu, minha Eugênia, é que não as descalçaste nunca; foste aí pela estrada da vida, manquejando da perna e do amor, triste como os enterros pobres, solitária, calada, laboriosa, até que vieste também para esta oura margem... O que eu não sei é se a tua existência era muito necessária ao século. Quem sabe? Talvez um comparsa de menos fizesse patear (!) a tragédia humana".
Viram? Imaginem agora o drama na sala de aula onde as criancinhas negras de olhinhos arregalados e tristes pelas comparações de Lobato e Twain, vêem somar-se a isso a decepção das criancinhas com deficiência física, arrasadas pelo fato do Machado questionar até mesmo a necessidade de sua existência!
Ora, meus caros heróis da raça, não será melhor enfrentarmos o passado e seus preconceitos do que proibirmos os textos anteriores à bendita conscientização inclusiva que nos contagiou mais recentemente?
Senão, nessa paranóia proibitiva acabaremos mudos.
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terça-feira, 20 de setembro de 2011

A CONDIÇÃO HUMANA

Talvez a principal prova que milita a favor da tese de que a Terra é um vale de lágrimas e nós somos seres destinados ao sofrimento, é o total descompasso entre o cérebro e o corpo. O cérebro busca o prazer; e tudo o que dá prazer ao cérebro -- comidas apimentadas, carnes vermelhas, doces, bebidas alcóolicas e outras drogas -- arrebenta com o corpo, destrói o fígado, os rins, o coração, os pulmões e por aí vai. Existe, claro, o sexo, algo em que a natureza permitiu sintonia, vez que dá prazer ao cérebro e faz bem o corpo. Mas, quem viveria só de sexo?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SER OU ESTAR, EIS A QUESTÃO.

Antigamente a gente conseguia saber quem eram, ou o quê eram, nossos amigos. Mesmo quando ficávamos muito tempo sem ver alguém, ao reencontrá-lo podíamos perguntar sobre a esposa, lembrar de alguma novidade sobre sua religião, ou convidá-lo para uma cerveja num bar ou alguma casa noturna conhecida de ambos. Hoje, você se despede de um amigo espírita; reencontra algum tempo depois com ele evangélico; e, mais alguns meses, budista. No próximo Ano Novo, prepare-se, será espírita de novo, reiniciando o ciclo que por certo incluirá outras crenças. Quanto ao estado civil, não foi apenas uma vez que me aconteceu de rever um amigo de muito tempo, perguntar-lhe sobre a esposa, e ele, sadicamente, responder apenas: "ela está logo ali; quer cumprimentá-la?" Lá vou eu esperando encontrar uma velha amiga, quando dou de cara com uma mulher completamente diferente, ou mais alta, ou mais loira, ou vice-versa, mas que me custa alguns segundos de surpresa e constrangimento. E o velho companheiro de bar e de paquera, agora é um gay assumido. Ou aquele amiguinho do colégio, que todo mundo discriminava, mas você, bonzinho, acolhia e mantinha a amizade, agora você reencontra, e quando espera que ele te apresente seu atual "amigo", ele aparece com uma loiraça de metro e tanto de pernas... e legítima! E não me venham os militantes GLS afirmarem, cheios de certezas, que "não existe ex-gay"; pois os religiosos também dizem coisas semelhantes. Tenho amigos espíritas que quando lhes conto que fulano tornou-se evangélico, eles respondem arrogantes: "ele nunca foi espírita, senão, não mudava". E a mesma reação você encontrará entre evangélicos, católicos, budistas, umbandistas ou ateus.
Daí se conclui que ninguém foi, nem é, nem nunca será coisa alguma. Nós todos, agora e permanentemente, estaremos.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O STF NA LUTA CONTRA O FASCISMO

Pode não ser tão republicana a atuação do STF usurpando poderes legislativos. Mas, temos que reconhecer que os homens legislam muito bem. Muito melhor, aliás, do que aqueles paspalhões que nós paspalhosamente elegemos para legislar (assim, na verdade, os paspalhões somos nós mesmos, os eleitores).
O Grupo dos 11 do STF estão, pacientemente mas sem recuo, limpando nossa legislação de todos os entulhos fascistas ali colocados pelas mentes autoritárias com o intuito de controlar a liberdade de expressão, tal como a obrigatoriedade do famigerado "deploma" de jornalista e, agora, enfrentando os assédios e recursos da também famigerada "ordem dos músicos", que pretende controlar a apresentação dos que dessa arte tentam sobreviver. Nossos 11 Samurais acabam de rejeitar novo recurso da "ordem" e se preparam para cortar de vez a cabeça dessa forma patétita de DIP, inconstitucionalizando a Lei de 1960 que a criou. Com a expectativa do julgamento próximo da ilegalidade do exame da OAB -- rompimento de mais um laço com nosso resistente passado medieval --, fica restando a desregulamentação, e consequente libertação total da atividade de ator, para que abandonemos o ultrapassado e vergonhoso salazarismo ibérico, que trava nosso desenvolvimento atando-nos à idade das trevas e suas guildas e corporações.

sábado, 2 de julho de 2011

OS "ERROS" NOS LIVROS DIDÁTICOS

Os jornalistas brasileiros - e, aqui, é necessária a adjetivação, pois se trata de uma espécie de jornalistas dependentes do diploma universitário, ao contrário de toda a prática nos países responsáveis pela vanguarda do conhecimento, onde o jornalista não é dependente de um diploma mas, sim, de sua capacidade jornalística, vindo de que área do conhecimento vier, funcionando o diploma apenas como uma láurea adicional, importante mas adicional - deveriam estudar uma matéria básica para qualquer um que pretenda servir-se da língua para interagir com seus semelhantes: a comunicação. Eu pensei que estudassem comunicação nas faculdades de jornalismo. Parece que não. Quem estuda comunicação, deve, obrigatoriamente estudar linguística e literatura. Reconheço que, da primeira, servem noções básicas. Mas que contemplem o clássico Saussure e uma pincelada em quem se dedicou a pensar no assunto, como Chomsky e outros, não deixando de conhecer os linguistas brasileiros como Eurico Back e Geraldo Mattos. Na literatura, é evidente que não se dispensa a leitura dos que usam a lingua para tal fim, desde os clássicos Alencar e Machado, passando pelos Ramos, Drumonds e Veríssimos, sem nunca desprezar os Rosas e Amados, e desaguando nos atuais Soares e Tezzas, sem esquecer os Ribeiros . Tantavia, quem pretende servir-se de sua língua pátria como principal instrumento de trabalho deve ir um pouco adiante e dar uma vista d'olhos nos teóricos, como Ataíde (o triste e o alegre) e Martins. Parece que nada disso passou perto dos jornalistas que criaram e alimentaram a polêmica artificial e burra sobre "os erros nos livros de português", que chegou a movimentar os parlamentares sempre à cata de escândalos, e os promotores de tocaia, gerando processos natimortos condenados ao arquivo para esconder a vergonha. Ou então, o que talvez seja pior, nossos jornalistas diplomados conhecem a linguistica, porém, incapazes intelectualmente de desnudar fatos, alimentam-se de factóides, tais como a oposição - e sua síndrome de Salieri - compensa seu apagão de criatividade com sua voracidade por escândalos.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O LADO "ESCURO" DA LUA

Por que será que a imprensa, a literatura, o cinema e grande parte das pessoas chamam o lado oculto da Lua de "lado escuro da Lua"? Na lua nova ele não é nada escuro; apenas oculto. Por que tem que ser escuro aquilo que não vemos ou não conhecemos?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O DIPLOMA DE JORNALISMO

Estive lendo um trabalho sobre as exigências para exercício da profissão de jornalista em vários países, elaborado por um professor e colocado no seu blog. (Não é difícil encontrar trabalhos dessa natureza pelo google). O tal professor é francamente a favor da exigência de diploma, e essa sua necessidade psíquica orientou o trabalho. Mas, o tiro sai pela culatra: o que o trabalho evidencia é que a exigência do diploma é mais comum nos países mais atrasados. E, isso não é difícil de se compreender. Os paises mais atrasados ainda estão com muitas de suas partes sociais componentes mergulhadas na Idade Média. Daí o dizer-se que são "emergentes". E, na Idade Média, todos sabem, prevalecia um fascismo corporativista que "protegia" as pessoas da concorrência. Havia, assim, uma obsessiva reserva de mercado para os trabalhadores, para garantir seu ganha-pão, e sua inclusão numa sociedade classista e estanque. Os países pioneiros na "emersão", ou seja, na adesão à revolução capitalista, no abandono do catolicismo medieval e da inquisição, foram obrigados a caminhar para uma sociedade onde a livre competição motiva o permanente aperfeiçoamento das pessoas. Daí porque esse regime tem vencido os nostálgicos retornos aos fascismos, tanto de esquerda como de direita. E os países onde permanece a saudosista reserva de mercado nas profissões têm caminhado na esteira do progresso dos desenvolvidos, beneficiando-se como vampiros de suas benesses, sem sacrifício equivalente para o surgimento delas. No que se refere à profissão de jornalista, a exigência de diploma é mais claramente evocadora de um controle medieval da sociedade, vez que contraria (ou contrariava até pouco tempo) a liberdade de expressão. Tanto é que tal exigência vem sempre trazida pela legislação das ditaduras. Sobrevivem , depois, como entulho autoritário defendido pelos incompetentes que temem justificadamente qualquer concorrência. O autor do trabalho enfatiza, tentando defender o diploma, que nos Estados Unidos, por exempo, onde não é exigido o diploma para o exercício profissional, 75% dos que atuam na área são diplomados; ou seja, evidencia-se a preferência dos patrões pela contratação dos diplomados. Isto se deve, e se constata numa rápida observação, à qualidade das faculdades de jornalismo. E essa qualidade existe porque há concorrência. As faculdades têm que concorrer com a vida na formação dos jornalistas. Daí, esmeram-se em oferecer ao mercado um profissional melhor que o formado em carreiras empíricas dentro dos órgãos de comunicação. No caso dos países que têm essa legislação ainda submersa no medievalismo ou no autoritarismo, as faculdades funcionam como cartórios: detêm o direito de conferir o grau de jornalista aos seus alunos como uma escritura prévia que lhes permite o acesso ao trabalho, sem o perigo de concorrerem com pessoas igualmente ou melhor capacitadas, saídas não só das várias áreas das ciência humanas, como de qualquer outra; ou ainda, mesmo com apenas o ensino médio. E nós, cidadãos desses países, que já não cremos em lobisomem e papai noel, vamos continuar acreditando que essas faculdades, assentadas comodamente no direito exclusivo de distribuir diplomas (ou permissões de trabalho), vão, por motivação própria, preocupar-se em aperfeiçoamentos que aumentem seus custos?
Voltando àqueles parênteses que coloquei acima sobre a liberdade de expressão, eu diria que o jornalista diplomado, como único porta-voz licenciado e autorizado dessa liberdade em nossa sociedade, tem o seu fim desenhado no horizonte pela internet (seus blogs e seus sites de relacionamentos), e a revolução que ela representa nas formas de expressão do pensamento. A não ser, claro, que os adeptos da obrigatoriedade do diploma iniciem uma campanha para exigí-lo a quem publica seus blogs ou sites.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O AFFAIRE BATTISTI

A Itália reclama do quê?
Manteve o cára preso por APENAS dois anos.
A França até publicou os sofríveis romances dele.
Enquanto que o Brasil, ora o Brasil:
- condenou o cára a prestação de serviços comunitários e a multa de dez mínimos pelo passaporte falso;
- manteve-o na prisão, em regime fechado, por QUATRO anos, apenas na suposição de que seria extraditado.
Aqui tem justiça, viu Berlusconi?

sábado, 11 de junho de 2011

CQC - CARETICE A QUALQUER CUSTO

Não gostaram da piadinha? Pois é esse o nível desse programa.
Será que a veia humorística nacional se esgotou tão completamente, a ponto de surgirem esses necessitados de holofotes a qualquer preço? Trocadilhos infames que, reconheço, assomam à mente de quase todo mundo, mas que as pessoas calam em nome do bom gosto, são vomitados pelo grupo como se fossem as maiores genialidades.
"Helô! Eu sou humorista!", diz um deles. Que falta de autocrítica!
O pior é que, segundo dizem, pagamos royalties à Argentina por uma coisa dessas.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

HERÓIS DO FOGO E DA DEMOCRACIA

Quem não nutre admiração pelos bombeiros?
Só o Cabral, o cabra do mal.
Bravos homens que ousam exigir dignidade.
Um saláro de dois mil, quando
os que fogem do fogo ganham vinte, trinta.
Presos, fazem das grades a honra,
e dos palácios os antros da covardia.
Bombeiros presos e bandidos soltos,
é a equação da vergonha.
Rio de Janeiro agonizante,
aproveita e ressuscita
da tua exacerbada violência.
Sacode o jugo dos fascínoras,
estejam eles travestidos
de traficantes ou de autoridades!

SUPREMA CORTE DO BRASIL: ONDE IMPERA A TRANSPARÊNCIA, A DEMOCRACIA E O BOM SENSO.

Transparência, sim, pois, perguntaríamos, quantos membros de supremas cortes pelo mundo ousariam expor-se dessa forma na televisão, discutindo, dando suas justificativas e pareceres, seus votos, suas decisões, em transmissão direta para quem quisesse ver?
Democracia, porque tal transparência permite a todos, cidadãos deste e doutros países, verificarem por si mesmos a liberdade, sinceridade e o respeito com que as justificativas são expressas e os votos dados.
E, finalmente, bom senso, porque nossos ministros da suprema corte, no julgamento de um caso específico como o do Battisti (e independentemente do mérito da ação), souberam definir exatamente a competência dos poderes num estado democrático, ajudando a manter e fortalecer, com a força de suas decisões e a lucidez de suas inteligências, o equilíbrio em nossas instituições.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

SAUDADES

Hoje o dia está radiante: sol dominando um céu totalmente azul - a não ser por algumas poucas nuvens próximas do horizonte, que apenas aumentam a beleza.
Só o frio curitibano impede a lembrança da infância.
Às vezes eu mato a saudade, ultrapassando o trópico de Capricórnio e voltando.
Volto ao calor, mas não volto ao sonho...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

DOMÍNIO DO INGLÊS

Tanto se fala em "analfabetismo funcional" nas críticas à educação. Tudo bem, não está errado. Mas, hoje em dia, o verdadeiro "analfabeto funcional", de qualquer nacionalidade, é aquele que não domina a língua inglesa. Isto veio, claro, no pacote da hegemonia anglo-saxã. Durante muito tempo a Inglaterra dominou os mares, o que fez sua língua ir se impondo como o código comercial por excelência; apesar de, por vários séculos, o francês permanecer como a língua da diplomacia e da nobresa. Com o declínio das antigas potências européias no início do século XX e a bipolarização do poder entre USA e URSS, seguida da estonteante vitória do primeiro ao final do século, o inglês sobrepôs-se à multipolarização do século XXI, principalmente na infovia (a via que tende a substituir todas as vias).
A guinada do inglês para o francês como língua universal talvez se tenha efetivado na Conferência de Paz que seguiu-se à Primeira Grande Guerra, a guerra que iria acabar com todas as guerras (e a Conferência que pretendia criar a paz permanente, mas que apenas adiou a hecatombe por mais vinte anos). Pelo menos é o que se depreende da leitura de um trecho do livro "Paz em Paris - 1919", da historiadora Margaret MacMillan, bisneta de Lloyd George:

"Depois de muita briga, ficou decidido que o francês e o inglês seriam as línguas oficiais para os documentos. Os franceses queriam só a sua língua, argumentando abertamente que era mais precisa e, ao mesmo tempo, tinha mais nuances que o inglês, mas na realidade não desejavam admitir que a França perdia posição entre as grandes potências. O francês, diziam eles, vinha sendo, por séculos, o idioma das comunicações internacionais e da diplomacia. Os ingleses e americanos ressaltavam que sua língua aos poucos suplantava o francês. Lloyd George revelou que sempre se arrependeu de não saber francês um pouco mais (quase não sabia nada), mas que, para ele, era absurdo que o inglês falado por mais de 170 milhões de pessoas não tivesse status idêntico ao francês. Os italianos declararam então que, nesse caso, por que não também o italiano? "Senão", disse o ministro do exterior Sonnino, "a Itália parecerá tratada como inferior, quando se exclui seu idioma". Sendo assim, disse Lloyd George, por que não também o japonês? Os delegados japoneses, que davam sinal de mal acompanhar o debate em francês ou inglês, permaneceram calados. Clemenceau cedeu, para consternação de muitos de seus próprios auxiliares".
E cedeu para sempre. Dia desses anunciaram o fechamento da biblioteca francesa em São Paulo.
Nem é preciso explicar a ausência do alemão e do russo no diálogo, uma vez que, nessa data aí, essas duas potências estavam dilaceradas, uma pela derrota, outra pela revolução.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

ANA DE HOLANDA

Ela é a vítima atual dos egos infeccionados de uma porção de "artistas" e "intelectuais".
Talvez daqueles que não criam o suficiente para se sustentarem e precisam de cargos públicos ou nos escritórios da guilda que os protege.
É certo que o intelectual, se o quisermos eficiente, deve ter ampla e irrestrita liberdade de pensamento. E é justificável que isto o torne dependente, mais que outros cidadãos, do egoísmo, ou do egocentrismo. Daí que o meio intelectual, seja o artístico ou o científico, é um campo minado de orgulhos feridos, ressentimentos, paranóias, e ingredientes semelhantes. Principalmente porque, como diz a música do Juca Chaves, "existe um só Beethoven prá mil Carlos Imperial". Quantos compositores existirão para um Chico Buarque? Quantos sociólogos com cargos comissionados para um Darci Ribeiro?
Então, compreende-se as boas e más intenções que comburem a fritura da Ana.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

CÓDIGO FLORESTAL

Nessa celeuma toda em torno da aprovação do novo Código Florestal, que limita bastante o acesso aos rios, alguém está pensando no aspecto lazer?
Sim, porque o pessoal do PV e das ONGs vivem em Ipanema, com aquele marzão todo à disposição. Não sabem que no interior do Brasil, principalmente nas regiões mais quentes, o lazer nos rios é gênero de primeiríssima necessidade. Tem que deixar prainhas, tem que permitir o barranqueio dos pescadores de fim de semana, tem que permitir o acesso aos barcos e aqueles equipamentos motorizados de nome inglês. Enfim, tem que permitir a nós, os pobres, a frequência ao rio; senão, nós vamos invadir sua praia.

DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

Vendo a quantidade de obras inacabadas, a impossibilidade de construirmos a infra-estrutura de uma copa do mundo, as usinas impedidas e empreendimentos industriais coibidos, sou levado a pensar que o Brasil está fadado ao "em desenvolvimento". Nossa ascenção ao status de "desenvolvidos" era emperrada pela corrupção, e, agora, bloqueada pelo combate à corrupção. Talvez corrupção seja como a inflação: muita, explode; nenhuma, paralisa.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

PERGUNTA INDISCRETA

Eu pergunto (já que não tenho, nem pretendo ter, autoridade para interrogar) a essas autoridades não eleitas que percebem salários 25 ou 30 vezes o salário de um professor primario, e ainda se julgam mal remuneradas, eu pergunto, face certos absurdos como o relatado pela professora do link ao lado (um promotor fiscaliza a escola e a "tremenda irregularidade" que aponta é que os pobres professores pegavam carona num pratinho de merenda escolar), e face aos aumentos abusivos de pedágios com apoio da justiça, e outras cositas más, eu pergunto se essas tais autoridades pagariam o que lhes paga a sociedade a alguém que trabalhasse para elas o tanto que elas trabalham para a sociedade.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

DEPOIMENTO DE UMA PROFESSORA BRASILEIRA

Vejam no canto superior direito da página o link para o depoimento dramático de uma professora brasileira. Vejam quando ela se refere ao fato de que a autoridade que fiscaliza a lei, quando faz fiscalização da escola, a irregularidade que ousa encontrar é que a professora também está comendo da merenda que se destina aos alunos (Na certa, todo o resto vai bem, obrigado!) As professoras que são "denunciadas" pela autoridade por participarem do cuscuz com os alunos recebem um salário mensal de R$960,00; a autoridade que encontrou essa "imensa" irregularidade (e, pelo jeito, não viu mais nenhuma) recebe um salário mensal de R$25.000,00! É bom nem lembrar o salário do legislador.
Veja o vídeo; e depois durma tranquilo... se puder.

domingo, 15 de maio de 2011

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS?

No caso do metrô do Higienópolis a prefeitura e seu preposto fizeram a lição de casa: consultaram a comunidade local sobre a instalação de uma estação do metrô, a população local(repito) foi contra, optaram pelo mais racional. Ou não é mais racional uma estação a cada quilômetro, do que uma em quinhentos metros e outra a quilômetro e meio? A mídia fez um barraco hipócrita (será que todo "politicamente correto" não é também hipócrita?) e, não deu outra: o onipotente e onipresente "ministério público" imediatamente detetou o holofote midiático e baixou no pedaço, a fim de defender "os interesses de um número maior" contra uma "minoria insignificante"; assim se expressou o promotor presente, esquecendo-se que seria esta minoria a pagar diretamente e em maior dose o preço do suposto conforto à maioria.
Já quando o país precisa contruir uma base de lançamentos para ter seus próprios satélites e diminuir a evasão de divisas pagando satélites americanos, ou quando precisamos de uma hidrelétrica para que não ajam apagões de energia, empreendimentos que beneficiam, ou até salvam, toda a população da nação (não uma "simples maioria"), o mesmo "ministério público" interfere alegando defender uma minúscula comunidade quilombola ou alguns "índios artificais" (porque, geralmente, trazidos de outros lugares por antropólogos, com a desculpa do nomadismo, mas com a indisfarçável estratégia de "ocupar espaços").
Afinal, defesa do politicamente correto, ou necessidade de aparecer?
(Como eu sempre digo: ainda bem que ninguém me lê... senão eu entrava em cada "lista de indesejáveis"! (já que não seria politicamente correto usar o tradicional "lista negra").

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A HUMANIZAÇÃO DA GUERRA?

A Al Qaeda adota uma estratégia de guerra que os países abandonaram desde 1945. Lembremos que até então, e durante mesmo este último grande conflito mundial, aceitava-se como válido o bombardeio das cidades, das populações civis. Veja-se a destruição das cidades alemãs, e as bombas atômicas nas cidades japonesas. O objetivo era claro: lançar a opinião pública dos países atacados contra seus próprios governos, ou, ao menos, levá-la a exigir a paz, uma vez que era a população, e não o príncipe, quem estava pagando a maior parcela da conta. Dessa forma, minavam-se os esforços de guerra do inimigo.
Com a criação da ONU e dos tribunais internacionais, o Estados passaram a conter-se nessa estratégia. Já os terroristas, por não serem Estados, por se insurgirem contra toda a ordem internacional, sentem-se livres para herdarem a tática. Por isso os alvos mais recentes da Al Qaeda não são propriamente instalações militares ou edifícios de Estados. São as populações civis. Se num passado recente atacaram embaixadas e porta-aviões, neste século, apenas prédios civis, como as Torres Gêmas, e estações de trem e metrô. E, tudo indica que seguirão nesse caminho. O ataque às populações civis, com aquelas aberrações chamadas homens-bomba, dissemina o mêdo e a insegurança, aumentando a decepção e a desconfiança do cidadão em relação ao Estado.

ENQUANTO ISSO, ALHURES...

Obama matou Osama...

terça-feira, 26 de abril de 2011

LEGISLADORES, JULGADORES E PROMOTORES: UNIDOS CONTRA O POVO?

Como se vê, por este Brasil a fora, esqueletos de obras!
Onde havia uma cancha esportiva, pequena mas que servia à comunidade, agora se vê o enorme esqueleto de um ginásio de esportes inacabado, em ruínas, utilizado impunemente por moradores de rua e consumidores de craque.
Ora é um pequeno erro na licitação, ora um desvio de verba, as desculpas se sucedem e permitem às "otoridades" paralisarem obras e mais obras e elevarem seu orgulho de ilegítimo poder.
E o povo é punido quantas vezes? Vejamos.
Primeiro, tem que sustentar os salários e mordomias dos senhores do Estado.
Segundo, vê os impostos pagos com seu dolorido suor esvair-se no erro ou na corrupção.
Terceiro, fica sem o bem de uso público: seus filhos empilhados por falta de escola, doentes por falta de hospitais, e sem laser por falta dos ginásios; todos em obras paralisadas pelos orgulhosos e obesos senhores do Estado.
Quarto, perde a segurança por ganhar em sua vizinhança um antro de vício e desvios tratados com complacência pelos mesmos senhores citados.
Quinto, vê suas propriedades se desvalorizarem ou se tornarem invendáveis pela proximidade daquele desastre que é o enorme esqueleto de obra inacabada albergando marginais protegidos da lei e da desordem.
É pouco? E os envolvidos, os que deveriam ser realmente punidos?
Esses, com bons advogados, sócios na ilegítima legislação vigente, rebolam entre os recursos, agravos, desagravos, e outros trâmites espúrios, e permanecem impunes.

Se houvesse um pouco, um pouco só que fosse, de bom senso e inteligência entre os senhores do Estado (todos: legisladores, julgadores, promotores, executores, et caterva) as coisas seriam diferentes. Afastavam e processavam o incompetente que errou na licitação, ou o desonesto que desviou fundos, e passavam a continuidade da execução da obra para outro executor, outro órgão, outra instância, ou um interventor. Mas, não puniam o povo!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A FLORESTA

Eu consigo imaginar como deve sentir-se o índio quando lhe tomam a floresta.
Dos sete aos quatorze anos vivi numa cidade cercada de florestas.
Havia uma em especial, que começava atrás da máquina de café do meu tio,
e se estendia até o início dos cafezais e de um campo de pouso.
Eu e meus amigos vivíamos a explorá-la...
Vários anos depois eu voltei lá, mas a floresta já não existia.
Confesso que chorei.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

GEMA, GEMA, GEMA...

Lembram da brincadeirinha de infância? -"Diga: gema, gema, gema..." -"Como é que chama a clara do ovo?" -"Gema!"
Assisti a entrevista do Bolsanaro naquele programa argentino e, o que notei, foi isso. Fizeram uma série de perguntas sobre homossexualismo; e, todo mundo sabe que ele é homofóbico; no final, a filha do Gil vem e pergunta o que ele faria se seu filho namorasse uma negra. Como toda comunicação tem ruídos; além do quê, é comum entrarmos em armadilhas quando o assunto muda bruscamente; não deu outra: tenho certeza de que o cara entendeu "se seu filho namorasse um gay".
Basta atentar para a resposta dele: "meu filho não corre o risco dessa promiscuidade, porque não vive num ambiente como lamentavelmente é o teu!"
Pelo jeito ele é homofóbico, mas, não racista.
Só que as pessoas fingem que entendem o que lhes interessa entender...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

E NÃO ENTENDO TAMBÉM O QUE OUÇO!

Alguém viu na tv o caso das tornozeleiras usadas pelos States nos condenados autorizados a trasitarem por aí, que, importadas para o Brasil, aqui não deram certo?
Deu na Globo.
Dispensa comentários tamanho absurdo...

domingo, 3 de abril de 2011

EU NÃO ENTENDO MAIS O QUE LEIO!

Parece que eu li na IstoÉ dessa semana que os nossos nobres juízes pretendem entrar em greve no próximo dia 27 se não aumentarem seus salários dos míseros R$26.000,00 mensais que recebem, para R$30.000,00 mensais! Quem será essa autoridade cruel que se recusa a pagar-lhes R$360.000,00 por ano, e quer obrigá-los a continuarem com seus parcos R$312.000,00 anuais? Aliás, parece que são "autoridades cruéis", no plural, porque a mesma notícia dizia que os juízes pretendem processar os congressistas por omissão, se eles não votarem o tal aumento. Já vimos tudo? Imaginemos, então, uma sentença judicial determinando no quê alguém deva votar!

Falar em sentenças, lembro de decretos; e lembro de uma história bastante conhecida e repetida de que o Imperador do Japão, no século XIX, ao traçar a estratégia para sua nação alcançar rapidamente o desenvolvimento técnico e industrial do ocidente, determinou, decretou, que ninguém poderia ganhar mais que o mestre-escola. Todo mundo sabe que esse era o nome do professor primário na época; hoje em dia, também conhecido como "professor do ensino fundamental". E fez mais: como todo mundo era obrigado a reverenciar o Imperador, ele decretou que dali em diante o mestre-escola seria o único ser dispensado dessa reverência; e, mais ainda: o Imperador é quem se curvaria em reverência ao professor primário.

Já pensou se os nossos congressistas resolvessem realmente catapultar nosso país para o rol dos desenvolvidos, e fizessem um decreto semelhante: ninguém, nem mesmo um juiz, poderá ganhar mais que um professor primário? E, mais, determinassem que os juízes ficariam obrigados a chamarem os professores primários de "meritíssimos" e "excelências"?

Mas, como tudo vai ficar do jeito que está, eu fico pensando se esses mesmos juízes terão coragem, a partir de maio, de decretarem a ilegalidade de uma greve dos professores primários pleiteando elevação do seu piso salarial de R$600, para R$900. Ou mesmo de R$1.000 para R$1.500, no caso de Curitiba, que é o maior do Brasil.

E o bobo aqui fica comentando essas coisas, arriscando se indispor com gente tão nobre e operosa. Seguramente, eu não li direito a notícia. Ou, como se trata da primeira semana de abril...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

ALGUNS DAQUELES TAPAS AMIGOS NA CARA PARA ACORDARMOS...

"A auto-estima elevada pode ser prejudicial para você e para os que lhe são próximos. Pense sobre o seguinte: quando falta a alguém a capacidade de autocrítica, ele pode atropelar os sentimentos dos outros - ou seus direitos- sem remorsos".
"A culpa é uma emoção nobre; a pessoa que não a sente é um monstro".
(Paul Pearsall)

LILIPUTIEDADES

Conheço um país que se julga uma democracia porque possui três poderes.
Assim como uma área aqui perto que se julga uma floresta porque tem três esquilos;
e um vizinho mais adiante que se julga um agro-negociante porque tem três porquinhos.
Os três poderes são: o poder eleito; o poder corporativo; e o poder sacerdotal.
O poder corporativo é o mais forte; realmente, um poder; últimas instâncias de qualquer suplicação individual ou coletiva. E, dentro dele, as corporações mais poderosas são a dos defensores regulamentados -- única alternativa imposta aos que suplicam ao poder sacerdotal --, e a dos noticiadores e comentadores regulamentados -- porta-vozes e mediadores das vontades populares de expressão. Todos estes, devidamente formatados no ensino oficial, e registradinhos em suas ordens, associações e sindicatos. A dos defensores regulamentados ganhou assento -- e acento -- até num texto confuso e prolixo que o tal país chama de constituição. A dos noticiadores não tem tal assento -- nem acento -- mas mete medo. Os membros do poder eleito e do poder sacerdotal são, usualmente, altaneiros e arrogantes com o populacho e até entre si. Mas, quando um membro da corporação dos noticiadores entra pela porta, qualquer membro dos outros poderes salta pela janela. Todos têm medo da imagem que podem projetar sobre filhos, parentes, vizinhos, ou para a posteridade. Além dessas duas, existem as corporações dos diagnosticadores e curadores, dos construtores, dos guerreiros, e outras. Todas juntas talvez consigam poder equivalente àquelas duas.
O poder sacerdotal é composto dos julgadores e dos provocadores de justiça. O que o faz sacerdotal é a total independência em relação aos cidadãos mantenedores -- e quem é mantenedor compulsório é, na verdade, um servo. Seus quadros são completados -- para não dizer locupletados -- por eles mesmos, pelos mais antigos, em concursos internamente preparados; e as chefias em listas sêxtuplas, que se tornam tríplices, e acabam unas; assim como a fixação de seus vencimentos. Nesse tal país ninguém nota que todo salário fixado arbitraria e autoritariamente pelo próprio servidor torna-se uma extorsão. Outra característica da sacerdotalidade é a forma mística e sacralizada com que exigem serem tratados, prenhe de deferências e palavras terminadas em íssimo. Devem ser tratados da mesma forma temerosa e respeitosa que, instruem os delegados, deve o pobre cidadão mantenedor tratar o marginal que lhe aponta a arma na hora do assalto. Vejam vocês, o poder de ingerência é tanto que um educador, doutrinado por Rousseau, Pestalozzi, e tantos outros, no momento de subsidiar a formação de um educando, deve pedir autorização para um julgador que nunca leu Freud ou Piaget. Um diagnosticador-curador, para sua própria sobrevivência, deve dar mais atenção aos formulários e prontuários exigidos por um provocador de justiça, do que ao pobre paciente. Quem manda pertencerem a corporações mais fracas.
Finalmente, o poder eleito; sempre relacionado em primeiro lugar mas que possui menos poder dentre os três. Talvez até possa ser chamado de poder otário. Sua vertente executiva é constantemente achincalhada pelo poder corporativo e acuada pelo poder sacerdotal, tendo, não obstante, que trabalhar servilmente para sustentar a ambos. Sua vertente legislativa vive pressionada entre as ameaças e gritos do poder corporativo -- que exige essas ou aquelas leis em seu benefício --, e as ingerências do poder sacerdotal -- que lhes cancelam as leis, ou decidem sua aplicação e seu âmbito, deformando-as com um aferidor fajuto de constitucionalidade.
O povo desse tal país, coitado, sustenta tudo isso com seu suado trabalho diuturno e não tem poder nenhum; pois o seu mísero poder é eleger o poder eleito, dentro das regras e interpretações impostas pelo poder sacerdotal, que também possui o poder de recompor o quadro dos supostamente eleitos, baseados em fichas sujas ou limpas que eles mesmos preencheram adredemente. Além de, esse tal povo, ir à eleição sob uma massacrante manipulação orweliana -- para não dizer goebelsiana -- por parte do poder corporativo, especificamente a corporação dos noticiadores e comentadores.

Well, ainda bem que esse país não é o nosso. E que ninguém leva a sério o que eu escrevo. Afinal, hoje é primeiro de abril.

quinta-feira, 17 de março de 2011

TROCOU DE COMBUSTÍVEL, O CARRO NÃO PEGOU?

Não sei como acontece com carros de ricos (assim, digamos, 1.6, 1.8, 2.0, etc.), mas, com carro de pobre, ou seja, 1.0, acontece muito. O feliz comprador confia no total flex inscrito no carro e resolve trocar o álcool pela gasolina, ou vice-versa. Guarda o carro na garagem e, na próxima partida: nada; o carro está afogadinho.
Não está no manual, nem na conversa de vendedor nenhum, mas não é assim no ôba-ôba que você pode escolher o combustível do seu carro. Existe um ritual que me foi revelado pelo rapaz do guincho (já que o cidadão descobre isso geralmente ainda na garantia).
Primeiro, você tem que esperar chegar na reserva. Não pode tentar o meio-a-meio, nem próximo disso. O álcool chegou na reserva, você já pode tentar a gasolina; ou claro, vice-versa.
Segundo, você tem que rodar, no mínimo, 12 quilômetros antes de desligar. É isso mesmo! Portanto, atenção: não tente a troca de combustível a menos de 12 quilômetros de casa. Isto, explica o rapaz do guincho, porque você tem que dar tempo ao sensor para ele se alfabetizar no novo combustível. Só após os tais 12 quilômetros, ele consegue "ler" o novo combustível.
Esse mesmo problema de leitura exige a primeira medida do ritual: se está meio-a-meio, o sensor não consegue "ler" quais são suas intenções, e, em consequência, não "autoriza" a entrada do novo combustível.
É bem isso mesmo. Agora compreendo porque uma garçonete teve tanta dificuldade em "ler" meus desejos em Nice, quando eu usei com ela um "mix" de inglês, francês e italiano.

quarta-feira, 16 de março de 2011

QUEM SABE?

Eu não só sei que nada sei,
como sei que cada vez sei menos ainda.
Nada mal, sei mais que o velho Sócrates.

segunda-feira, 14 de março de 2011

IMORALIDADES

Todo mundo vive dizendo que nossos políticos são imorais.
Todo mundo sabe, também, que são nossos políticos que fazem nossas leis.
Então, nossas leis são imorais também, já que são feitas por políticos imorais?
E, se nossas leis são imorais, e nós nos submetemos a elas, impomos, portanto, aos nossos conterrâneos leis imorais, então, somos imorais também?
E, sendo, assim, nós, como legítimos imorais, elegemos políticos imorais, que fazem leis imorais, nas quais deleitamos nossa imoralidade.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

IGREJA LAICA E DESBATISMO

A novidade, nos arraiais de língua inglesa dos brejos da cruz, é a meninada, ao aderir ao ateísmo, se desbatizar. Aproveitei a imagem do poeta sobre os brejos da cruz porque, como todos sabem, nos brejos da lua crescente quem se torna ateu nem pensa em desbatismo, pois é logo desencarnado pelo fio da adaga. O fato é que basta lançar a palavra no Google ou no Youtube e encontraremos lá as cerimônias, promovidas por um ou outro líder dos ateus convictos e militantes.
Eu acho uma boa, essa de desbatismo; e atende uma demanda. A demanda das pessoas que foram batizadas ainda bebês, ou crianças pequenas, sem, portanto, condições de decidirem em que deus ou em que deuses iriam crer. Chegados à fase adulta, incursionando pela razão e pela ciência, não encontram o deus sorvido no leite materno ou nas prédicas paternas, e querem livrar-se de um compromisso que não escolheram, que assumiram por eles.
Mas, pensando bem, não seriam só os ateus interessados nessa cerimônia. Ela deve interessar também aos crentes. Já se vão longe os tempos em que todos tinham que adotar a religião do príncipe e, hoje, graças a Deus, podemos ser até ateus, ao menos no mundo ocidental. Assim, troca-se de religião, de seita ou de igreja com a facilidade com que trocamos o programa do final de semana. Ao mudar de igreja, o cidadão batiza-se, mas como era já batizado na outra, fica com dois batismos, às vezes três, ou até quatro. Algum pastor pode escandalizar-se com isto e decretar que não precisa um novo batismo para ingressar em sua igreja, se o neófito já o foi em outra denominação cristã qualquer. O que poderá gerar duas categorias de adeptos, os que foram batizados aqui mesmo, e os que assim já chegaram, e com isto o nhenhenhem da ciumeira e concorrência pelos favores divinos.
Tudo isto pode ser evitado se o interessado, quer por se tornar ateu, quer por adotar outra religião e desejar livrar-se do compromisso anterior para chegar pagão e zerado ao novo altar, tiver acesso, sem exclusão, ao desbatismo.
Fica, portanto, a sugestão para pessoas corajosas, ousadas e batalhadoras, atentarem para esse novo nicho do mercado, e se estruturarem para atender a essa demanda.
Sugiro que criem uma igreja laica, onde na qualidade de líder, pastor, sacerdote, sindico, ou que nome queiram adotar, oferecessem tal prática aos interessados. Claro que a cerimônia teria que ter toda a pompa e o estardalhaço devido, para impressionar a vítima tanto quanto a outra, a do batismo. O ser assim renascido pelo desbatismo, poderia, então, correr livre e feliz, virgin-again, para adquirir um novo batismo em sua nova crença. Ou, melhor ainda, integrar-se, como laico ou ateu, à igreja laica, e passar feliz o resto dos seus dias participando de rituais onde comeria o sacramento da batata frita e beberia o sangue do seu deus em forma de vinho ou cerveja.
Como digno é o trabalhador do seu salário, o fundador da igreja e executor da cerimônia, seria, claro, recompensado com as espórtulas daí decorrentes; e as propriedades, principalmente as picapes, que adquirisse com a labuta honesta deste novo e exótico templo ostentariam um decalque com os dizeres: "não é propriedade de deus nenhum". (A exemplo do caminhoneiro que, não querendo perder a onda de dísticos religiosos, escreveu simplesmente, no parachoque do seu caminhão: "se o mundo fosse bom, o dono estaria nele").

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

?POR QUÉ NON TE CALAS?

Todo mundo reclama dos "políticos".
Os programas humorísticos se sustentam em piadas sobre os "políticos".
Os sites de relacionamento, as caixas de e-mails, os blogs, transbordam de anedotas, queixas e denúncias sobre os "políticos".
Ora, toda crítica aos "políticos" é, na realidade, uma autocrítica.
Nós somos os "políticos". Nós os elegemos de dentre nós mesmos.

Que análises, que elocubrações, que tipo de justificativas elaboras no momento de dar teu voto a alguém para um cargo "político"?
Votas em quem te dá um emprego, ou um emprego ao um teu parente, ou te dá o telhado, ou uma casinha na invasão, ou seja lá que ganho pessoal?
Ele dá o que pediste, e está quite contigo. Não tens mais nada a reclamar.
Votas pelo teu bairro, pelo asfalto de tua rua, pela pintura da tua escola?
Ele faz o que pediste, e está quite contigo. Não tens mais nada a reclamar.
Votas pela tua cidade, para que ele traga a ela o que não trará às outras?
Ele defende a tua cidade, e está quite contigo.
Não tens que reclamar se o restante do tempo ele usa em leis estapafúrdias para agradar certos segmentos da sociedade, ou vota nos projetos dos outros, para ajudar as cidades dos outros (onde não conflita com a tua, claro!), ou vota para sustentar governos, mesmo que para isto ele receba mensalões ou mesalinhos.

Quando votares para vereador, não para que ele cuide da tua rua ou seja o agente de teus interesses e queixas junto ao executivo, mas porque ele é capacitado para elaborar as leis e posturas municipais, porque ele sabe fiscalizar o orçamento e as aplicações do prefeito, porque ele tem condições de analisar e vetar ou aprovar os projetos necessários à tua cidade, pouco terás a reclamar.
Quando votares para prefeito em alguém que não precisa de vereadores para lembrar-lhe as obrigações, alguém que possui histórico de honestidade e independência de pensamentos, palavras e ações, pouco terás do que reclamar.
E para deputado? Quando votares em alguém que sabe fazer e alterar as leis em benefício de toda a sociedade, que não dobra a espinha a guildas, corporações de ofício, classes quaisquer, mas vota e fiscaliza no interesse de todos, não terás muito o que reclamar da tua vida.
Quando deixares de ser tão crédulo e de te comportares como rebanho ante jornalistas arrogantes que servem-se de homens públicos pusilâmines como escadas para atingirem seus picos de audiência, e passares a pensar com a tua cabeça, talvez consigas votar a teu favor.
Mas, se queres persistir em tua burrice ou irresponsabilidade cívica diante da urna, sigas ao menos o conselho do rei: ?por qué non te calas?