domingo, 12 de dezembro de 2010

O CHOQUE DE ORDEM

A tomada dos antros de traficantes pela polícia aliada com as forças armadas agiu como uma injeção de auto-estima na alma dos brasileiros. Foi um "11 de setembro" ao contrário. Da depressão em que nos arrastávamos causada pela sensação de impotência ante a crescente criminalidade, passamos a um "nós podemos!" que descortina um futuro viável ao nosso país. A aceitação popular foi de uma unanimidade equivalente à copa do mundo.
Numa roda de amigos, onde se joga conversa fora, ensaiei uma infeliz crítica insinuando um fracasso militar da operação porque deixara vazar muitos bandidos e armas: as reações foram como se eu tivesse ousado criticar uma seleção que trouxesse vitoriosa um caneco. Reciclei imediatamente o papo, aliviando o prejuízo, mas, gostei. Ficou-me claro que o sentimento de guapecas que costumava nos unir, foi substituído por um sentimento nacional de união em torno de desejos e poderes de construírmos um país onde impere a lei e onde os direitos de todos são sustentados pelos deveres de cada um.

INVESTIGADORES

O que faz com que a polícia e o ministério público invistam tempo, dinheiro e tutano em teses acusatórias que não resistem nem à logica, nem aos fatos? Principalmente nos esforços para entronizar um mandante do crime próximo às vítimas: empacam como burros velhos, juntando os cacos da tese continuamente espatifada. Que desejos mórbidos de que famílias se trucidem os movem? Na literatura policial inglesa o primeiro suspeito era o mordomo. Na realidade tupiniquim é o marido, a esposa, o filho ou a filha. Que obviedade muar!
Mas eu sei o que é. Participei muito de comissões de sindicância, sei como as pessoas ficam. É o equivalente a uma dor de corno; uma fobia de serem enganados, de serem feitos de bobos pelo suspeito; medo de que ele se ria da sua inteligência. Daí, tendem a ver evidências em ilusões, e alimentam uma certeza paranóica sobre a perpetração do delito. Principalmente se os seus cérebros minados por conflitos edipianos ou amenos distúrbios neurológicos estranham certas respostas do infeliz interrogado.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

PARABÉNS, MINISTÉRIO PÚBLICO!

O Ministério Público Federal deu uma bola dentro ao exigir que a Band e o Datena se retratem da lambança que fizeram ao provocar o ódio religioso contra os ateus. Recentemente, esse apresentador atribuiu a crescente criminalidade ao ateísmo. Ou seja, retrocedeu cinco séculos em inteligência, sociabilidade e política.
Se o apresentador usasse de um pouco de racionalidade, teria feito uma pequena amostragem nos presídios, entre os condenados por diversos crimes, e verificado o percentual de ateus. Seguramente é inferior ao de devotos.
A liberdade de pensamento, mantenedora da liberdade religiosa, é uma conquista que custou penas, vidas e sofrimentos. É um bem muito valioso para que um apresentador de televisão venha atacá-lo impunemente.
Tenho criticado, às vezes, o MP pelo seu corporativismo, pela sua exagerada independência da sociedade e pelos altos salários dos seus integrantes. Também pela sua exagerada ingerência em todos os passos dos cidadãos.
Mas, é claro que certa independência é necessária para que os promotores não se intimidem; e a ingerência deles em todas as áreas mantém a aplicação das leis. Os legisladores que façam leis melhores se essa ação incomoda. E, depois, eles não agem sozinhos; suas ingerências vão a julgamento do judiciário, para só depois efetivamente influenciarem nossas vidas.
No presente caso, a liberdade, independência e prontidão dos procuradores, nos salvará do retrocesso que poderia ocorrer pelos erros de quem tem um trombone nas mãos, como o apresentador de televisão.
Não sou ateu; mas, morro (nem tanto, claro) defendendo o direito de quem quiser sê-lo.