sábado, 7 de agosto de 2010

FICHA LIMPA, BARRA SUJA.

Cada vez eu entendo menos esse povo. Acho que penso diferente de todo mundo. Claro que isso não é bom.
Esse povo adora entregar sua autonomia, ou sua soberania. Primeiro, entregava ao soberano, mesmo: ao rei de Portugal. Depois, deixou de exigir que o rei fosse o seu senhor, para exigir que o fosse o Imperador. Cansou do Imperador, passou a fazer salamaleques para os militares. Viram? Sempre alguém, ou alguma classe, que não é eleito, ou eleita. Parece que há uma necessidade do povo de submeter-se a alguém que o controle, sem que seja controlado por ele. Como fruto do estelionato político que chamaram de "constituinte", ele entregou o controle de sua vida, as decisões sobre sua alimentação, sobre a educação de seus filhos, seu trabalho, tudo, enfim, ao ministério público e ao judiciário. Claro, não dá prá viver (ainda!) sem essas corporações. Mas, nos países civilizados há, ao menos, um mínimo de controle popular sobre elas. Afinal, quem paga a conta deveria discutir os preços: aqui eles fixam seus próprios salários!
Agora, todos festejam o aumento do controle desses senhores: eles passam a decidir a lista daqueles em quem nós podemos ou não votar. Como? Não é bem assim? É só o cara processado e julgado, e tal? Mas, meu chapa, com tanta lei, ninguém se livra de ser enforcado. O primeiro paranaense que teve seus direitos políticos cassados pela nova ordem, o foi com a desculpa de pesca ilegal! Vejam, o cara saiu com o filhinho e uma varinha equipada com um anzol de lambari numa tarde de sol; foi resvalando pela margem do riacho, até chegar a um local onde a pesca era proibida. Flagrado, teve seus direitos políticos cassados.
E mais... tem um outro poder não eleito e decorrente da constituição ilegítima: as corporações de ofícios, alcunhadas hoje em dia de "conselhos de classe". Desde a Idade Média até o salazarismo resistente no Brasil, pelas mais diversas razões alguém pode ser impedido do exercício profissional pela guilda; e, nem todas são razões criminosas. Algumas até meritórias, como a insurgência contra práticas cristalizadas; ou pela realização de inovações técnicas, tecnologicas ou científicas. Pois bem, o cara inova, desperta o ciúme da corporação, insurge-se, é expulso, pronto, automaticamente é cassado politicamente. Pois está lá na lei: quem é impedido de exercício da profissão pelo conselho de classe cai na malha da lei da ficha limpa.
Será que só eu vejo isso? Será que só eu desejo as rédeas do meu destino, incluindo decidir livremente em quem eu voto, sem ter alguém "cuidando de mim"?
Vai, povo, vai renunciando à sua soberania... Quando quiser acordar e retomar o controle se sua vida, não vai mais conseguir...

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