sábado, 2 de janeiro de 2010

AS VERDADES E AS FÁBULAS

Entre os poucos livrinhos infanto-juvenis que publiquei, num deles, "Brás Brasileiro", o protagonista mede-se num pé de mamão e acha que encolheu quando se mede tempos depois. Ganhei muitas críticas e reprimendas, até de dentro da família, onde tenho agrônoma e bióloga de plantão, uma vez que a árvore não poderia ter elevado a marca, pois elas crescem por superposição. Minha salvação foi que eu havia colocado na primeira página do livro um aviso assim: "Neste livro existem verdades e mentiras; mas eu acredito mais nas mentiras". Também aleguei que, se é verdade que as árvores não crescem "se esticando", elas engrossam; ou seja, encorpam. E, no se encorparem, acabam elevando, por pouco que seja, uma marca qualquer deixada em seu tronco. Não colou. Fui, então, cobrar do meu barranqueiro particular a gafe. Ele garantiu que a historia era verdadeira. E pouco se importava como as árvores cresciam.
Lembrei-me disso quando lia, hoje, num gibi do "Sítio do Pica-pau Amarelo", a Tia Nastácia, Emília e Pedrinho, às voltas com um macaco que roubava os amendoins da horta da cozinheira. Lá estavam os pezinhos de amendoim intactos, como se as frutinhas roubadas pendessem de seus galhos. A Emília chegou a acariciar um deles dizendo: "É mesmo! Este pé está depenadinho! Que coisa!"
A gafe do gibi, seguramente, se deve ao fato de o autor ser do meio urbano, sem nunca ter acompanhado uma cultura de amendoins.
A minha, porque meu informante, o barranqueiro particular, apesar de ter nascido, crescido e vivido sempre no meio rural, nunca observou com rigor científico o crescimento das árvores. Aliás, os camponeses que povoaram minha infância e adolescência sempre foram mais especializados em cortar árvores do que plantá-las e vê-las crescer...

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