terça-feira, 2 de setembro de 2008

"VÁ PARA A CORTE"
Era sem dúvida o conselho mais cotado entre os pais durante quatro quintos da história do Brasil. Até que um dia, mudou: "vá para o exército", passaram a dizer. O país mudara de tutor: da família real e, depois, imperial, para as forças armadas, autores e avalistas do novo regime.
Os pais sempre querem um bom futuro para os filhos. Carreira segura e rendosa; que paire sobre o comum dos pobres mortais que lutam para conciliar receita e despesas. Carreira que não sofra as intempéries naturais do mercado; isto é, que seja sustentada por toda a sociedade. Compulsoriamente, claro.
Qual seria o conselho de hoje? Quais seriam as profissões ou carreiras onde os filhos teriam a garantia de um futuro tranqüilo? Seria na importante área da produção de alimentos? Ou na construção civil? Seria na produção industrial? Ou na medicina?
Após um brevíssimo período - no qual muitos pais se enganaram receitando um "vá para a política" -, sem dúvida, de alguns anos para cá, todos sabemos quais são as carreiras mais desejadas. Qualquer pai hoje exultaria se seu filho passasse num concurso para juiz ou promotor. Não é fácil; os concursos são preparados pelas próprias corporações. Mas, uma vez admitidos, podem contar com os maiores salários da sociedade, reajustados por eles mesmos, além de participarem de uma corporação que não se sujeita a nenhum controle pela sociedade (a não ser, claro, a lei; mas a lei, ora, interpreta-se!). Sucessores do poder monárquico e militar na tutela de uma sociedade que ainda não aprendeu a tutelar-se a si mesma, esses profissionais têm apenas uma preocupação - leve por sinal -, com alguns engraçadinhos da área de comunicações (e, às vezes, da área de interceptação de comunicações). Mas, tudo administrável.
Dizem que teria dito um pobre asteca a um nobre asteca, quando este o interpelou por estar se sujeitando muito facilmente ao espanhol conquistador: "O povo sempre esteve de cabeça baixa; assim, nem notou a troca de senhores". Vamos torcer para que a situação atual perdure por muito tempo ainda, pois, pelo andar da carruagem, podemos temer que o conselho predominante em breve seja: "vá para o tráfico"!

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