quarta-feira, 30 de abril de 2008

ANTROPOLOGIA E LIBERDADE

Não se trata de idéia fixa, mas de novo ocorreu-me uma dificuldade no ponto de equilíbrio. Desta vez é entre a preservação da cultura indígena e o congelamento daqueles indivíduos numa situação de escravidão. Se não é de escravidão, é muito parecida. Pelo menos é o que me ocorre quando vejo aqueles índios comportados, nus ou semi-nus, cantando, dançando, caçando, e cozinhando em suas choças, quando sei que seus caciques e pajés têm aviões e cercam-se de equipamentos de última geração. Preservar suas culturas não equivale a preservar suas religiões? Teríamos sido todos nós, que nos chamamos civilizados, beneficiados se preservassem nossas religiões? Como seria se alguns antropólogos extra-terrestres nos tivessem convencido a permanecermos apedrejando amores clandestinos na palestina, ou torturando e sendo torturados por inquisidores medievais, com a desculpa de preservar nossa cultura? Afinal, não posso deixar de notar que quem crucificou Jesus foram os pajés, com apoio dos caciques, para que ele não alterasse a ordem vigente, que, obviamente, trazia inúmeras vantagens a eles. Também a inquisição, sem dúvida, foi criada e mantida pelos pajés, de novo com apoio dos caciques, a fim de manter a população quieta e disciplinada, curtindo sua cultura, enquanto eles se mantinham no poder e usufruíam de suas vantagens. Portanto, temos que encontrar o ponto de equilíbrio que nos impeça de desfigurar o índio, transformando-o em um "civilizado" miserável, mas, ao mesmo tempo, não impedí-lo de seguir seus caminhos, traçados pelas suas vontades individuais, livres e soberanas.

terça-feira, 22 de abril de 2008

RIO TEMPO

Eu estou num corpo, que está num barco, que desce um rio.
Saí da fonte para a foz, e estou em meio do caminho.
Para mim, a fonte é o passado e a foz é o futuro.
Se paro ou me volto as coisas se invertem.
Pois a fonte tem águas que ainda não vi,
o que faz que elas sejam o futuro,
enquanto que a foz são águas passadas.
Mesmo quando me movo ao longo do rio,
tendo a fonte como passado,
lá estão surgindo novas águas;
portanto, em meu passado surgem novidades.
Mas as novidades não são coisas do futuro?
Se o futuro é a foz, suas águas podem ter passado por mim;
então meu futuro é conhecido, pois é feito de águas passadas.
Oh, meu Deus, minha vida gira como as voltas deste barco,
tendo o passado e o futuro sempre no presente.
20.2.07

domingo, 20 de abril de 2008

Criminalidade e midia

Não é fácil encontrar um ponto de equilíbrio. Um fato incontestável é que nada deve ficar escondido; tudo deve ser revelado. Mas, entre revelar um fato, ou seja, informar, e aproveitar oportunidades criando sensação que alavanque audiências, deve haver um ponto de equilíbrio. Ouvi uma vez que o saudoso Samuel Weiner, na distante década de 50, quando dirigia o jornal Última Hora, de circulação nacional, notou que ao ser noticiado em primeira página um determinado crime ocorrido no Rio, na mesma semana o crime se repetia em outras capitais do país. Determinou, então, aos seus redatores, que não colocassem chamadas das notícias de crimes na primeira página. Atitude ética. O recente caso da menina Isabela elevou a audiência dos telejornais em 46%. Em alguns casos, o destaque dado a certos crimes ocorridos no eixo Rio-São Paulo, permite-nos profetiza-los nas demais capitais e centros menores do país nos dias subsequentes. Em outros casos, a insistência com que exploram o caso, leva a sociedade a um estressamento que anestesia a capacidade de indignação, tendo como conseqüência a vulgarização da violência. Mas, é incontestável que nada deve ficar escondido: tudo deve ser revelado. E não é fácil encontrar um ponto de equilíbrio.